Analise
das canções Veraneio Vascaína (1981)
composta por Renato Russo e Fê Lemos e lançada pelo Capital Inicial, Inútil (1983)
composta por Roger, interpretada pelo Ultraje
a Rigor e Apesar de você (1970) composta
e interpretada por Chico Buarque.
Veraneio Vascaína
Renato Russo e Fê Lemos
Cuidado
pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda
pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com
números do lado, e dentro dois ou três tarados
Assassinos
armados e uniformizados
Veraneio
Vascaína vem dobrando a esquina
Sabe
o que vai ser quando crescer desde menino
Ladrão
para roubar ou marginal para matar
"Papai,
eu quero ser policial quando eu crescer"
Se
eles vêm com fogo em cima é melhor sair da frente
tanto
faz, ninguém se importa se você é inocente
Com
uma arma na mão eu boto fogo no país
E
não vai ter problema,eu sei, estou do lado da lei
Cuidado
pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda
pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com
números do lado, e dentro dois ou três tarados
Assassinos
armados e uniformizados
Veraneio
Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio
Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio
Vascaína vem dobrando a esquina.
A música Veraneio Vascaína composta por Renato Russo e Flávio Lemos durante
a ditadura militar no Brasil uma crítica ao modo como os militares agrediam os
estudantes.
O
nome Veraneio Vascaína refere-se ao
carro da polícia, descrevem as cores: preto, branco, cinza e vermelho.
O
verso “Assassinos armados uniformizados” faz
referência aos militares.
É
representada também a discriminação social no trecho “porque pobre quando nasce com instinto assassino, sabe o que vai ser
quando crescer desde menino, ladrão pra roubar ou marginal pra matar”. Além
disso, chamam de “boyzinhos” os
filhos de militares que eram poupados dos abusos militares.
A
real intenção dos compositores era denunciar os militares, com uma música bem
objetiva, que consequentemente foi barrada pela censura na época e só foi
possível ser apresentada anos depois.
Giulia Sabrina
Inútil
Ultraje a Rigor
A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
A gente faz carro
E não sabe guiar
A gente faz trilho
E não tem trem prá botar
A gente faz filho
E não consegue criar
A gente pede grana
E não consegue pagar...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
A gente faz música
E não consegue gravar
A gente escreve livro
E não consegue publicar
A gente escreve peça
E não consegue encenar
A gente joga bola
E não consegue ganhar...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
Inútil!
Inútil!
Inú! Inú! Inú...
Primeiramente, a música em
si usa da subjetividade com visão ampla e crítica a escassez de conhecimento da
sociedade brasileira.
A
letra usa termos irônicos na questão da concordância verbal, demonstrando
claramente a miséria e simplicidade do povo brasileiro em relação ao exterior.
A imensa dependência econômica e
tecnológica aos países desenvolvidos reflete-se muito na ideologia da música,
executando essa crítica ao sistema politico e econômico brasileiro.
De forma bem permanente, o texto
mostra a alienação da sociedade como na copa de 70, destacando-se a “boa”
imagem de Médici e a falsa ideologia do “milagre econômico” perante a população
com o princípio de conter qualquer revolução comunista que envolvesse o risco
ao famoso capitalismo favorável ao governo ditatorial. Deixava assim, toda a
população alienada e “inútil”.
Uma ferramenta de manipulação a
sociedade foi à imprensa a favor do Estado, como a Rede Globo.
A visão crítica da influencia do exterior,
o enfraquecimento da cultura nacional, a submissão à globalização
internacional, o precário desenvolvimento social, econômico e tecnológico,
estavam muito clara na iniciativa do autor Roger ao executar a música.
Contudo, os grandes intelectuais
receberam a mensagem de modo singular e diferenciado, a ideologia de liberdade
a sociedade brasileira, sendo apenas o início de uma revolução, representando
um marco histórico do período contemporâneo: Diretas já! A música, por conseguinte, fora usada como hino dos
estudantes e outros cidadãos que queriam “votar para presidente”.
Por
isso é essencial que a sociedade brasileira atual não se esqueça desse momento
nebuloso, e que lembrem e transmitam a ideologia para as gerações futuras, que
será resumida na seguinte frase: “Lembrar e resistir!”.
Gabriel Victor Costa, Luiz Felipe, Gabriel Cordeiro,
Leonardo Castro, Rodrigo Araújo.
Apesar de você
Chico Buarque
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá
Durante
a década de 70 o governo Médici havia
vetado o Conselho Superior de Censura e o Departamento de Censura (DCDP) agia
livremente contra qualquer um que
aparentasse criticar o governo (o AI-5 vigorava contra os direitos
humanos), foram os “anos de chumbo” porque agora os artistas
podiam ser presos e torturados a qualquer momento, assim muitos preferiram
deixar o país, as greves estudantis eram duramente reprimidas. Chico Buarque
quis correr o risco, ele e outros artistas passaram a usar metáforas em suas
músicas, que escondia seus significados verdadeiros.
A música passou despercebida pela
censura e se tornou sucesso popular, depois de vender 100 mil cópias perceberam
o sentido escondido na musica, isso aconteceu porque a música parecia na
verdade uma briga entre namorados e o ritmo alegre do samba ajudava a disfarçar
o tema.
Foi
um período especialmente duro na ditadura militar por causa da repressão e
desaparecimentos, mas o governo pretendia fazer o povo pensar que tudo estava
bem e que a ditadura era boa para desenvolver o país, o povo era incentivado a
ver TV e os hinos ufanistas que descreviam o Brasil como “um país tropical e
bonito por natureza”.
O
governo era a autoridade máxima não poderia ser contestado, as pessoas andavam
preocupadas e com medo do governo (a censura atacava quase indiscriminadamente)
e já não podia falar abertamente, as fontes de conhecimento, livros e músicas,
eram controladas pelo governo. Também não havia perdão para crimes políticos, a
música pergunta como Médici vai se esconder da raiva de toda a população quando
uma revolução acontecesse, enfatizando que ele não estaria no poder para sempre
enquanto as pessoas eram reprimidas e tentavam manter-se felizes. É clara a
menção no fim da música, uma afronta.
Rodrigo Silva, João Victor, Dayane Sinandes.
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