quarta-feira, 5 de junho de 2013

Músicas repercutidas em períodos nebulosos de repressão

Analise das canções Veraneio Vascaína (1981) composta por Renato Russo e Fê Lemos e lançada pelo Capital Inicial, Inútil (1983) composta por Roger, interpretada pelo Ultraje a Rigor e Apesar de você (1970) composta e interpretada por Chico Buarque.

Veraneio Vascaína
Renato Russo e Fê Lemos

Cuidado pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, e dentro dois ou três tarados
Assassinos armados e uniformizados
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina

Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ladrão para roubar ou marginal para matar
"Papai, eu quero ser policial quando eu crescer"

Se eles vêm com fogo em cima é melhor sair da frente
tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão eu boto fogo no país
E não vai ter problema,eu sei, estou do lado da lei

Cuidado pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, e dentro dois ou três tarados
Assassinos armados e uniformizados
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio Vascaína vem dobrando a esquina.

            A música Veraneio Vascaína composta por Renato Russo e Flávio Lemos durante a ditadura militar no Brasil uma crítica ao modo como os militares agrediam os estudantes.
O nome Veraneio Vascaína refere-se ao carro da polícia, descrevem as cores: preto, branco, cinza e vermelho.
O verso “Assassinos armados uniformizados” faz referência aos militares.
É representada também a discriminação social no trecho “porque pobre quando nasce com instinto assassino, sabe o que vai ser quando crescer desde menino, ladrão pra roubar ou marginal pra matar”. Além disso, chamam de “boyzinhos” os filhos de militares que eram poupados dos abusos militares.
            A real intenção dos compositores era denunciar os militares, com uma música bem objetiva, que consequentemente foi barrada pela censura na época e só foi possível ser apresentada anos depois.

Giulia Sabrina
Inútil
Ultraje a Rigor


A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
A gente faz carro
E não sabe guiar
A gente faz trilho
E não tem trem prá botar
A gente faz filho
E não consegue criar
A gente pede grana
E não consegue pagar...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
A gente faz música
E não consegue gravar
A gente escreve livro
E não consegue publicar
A gente escreve peça
E não consegue encenar
A gente joga bola
E não consegue ganhar...
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
Inútil!
Inútil!
Inú! Inú! Inú...




Primeiramente, a música em si usa da subjetividade com visão ampla e crítica a escassez de conhecimento da sociedade brasileira.
A letra usa termos irônicos na questão da concordância verbal, demonstrando claramente a miséria e simplicidade do povo brasileiro em relação ao exterior.
Aborto elétrico.jpg            A imensa dependência econômica e tecnológica aos países desenvolvidos reflete-se muito na ideologia da música, executando essa crítica ao sistema politico e econômico brasileiro.
            De forma bem permanente, o texto mostra a alienação da sociedade como na copa de 70, destacando-se a “boa” imagem de Médici e a falsa ideologia do “milagre econômico” perante a população com o princípio de conter qualquer revolução comunista que envolvesse o risco ao famoso capitalismo favorável ao governo ditatorial. Deixava assim, toda a população alienada e “inútil”.
            Uma ferramenta de manipulação a sociedade foi à imprensa a favor do Estado, como a Rede Globo.
            A visão crítica da influencia do exterior, o enfraquecimento da cultura nacional, a submissão à globalização internacional, o precário desenvolvimento social, econômico e tecnológico, estavam muito clara na iniciativa do autor Roger ao executar a música.
            Contudo, os grandes intelectuais receberam a mensagem de modo singular e diferenciado, a ideologia de liberdade a sociedade brasileira, sendo apenas o início de uma revolução, representando um marco histórico do período contemporâneo: Diretas já! A música, por conseguinte, fora usada como hino dos estudantes e outros cidadãos que queriam “votar para presidente”.
Por isso é essencial que a sociedade brasileira atual não se esqueça desse momento nebuloso, e que lembrem e transmitam a ideologia para as gerações futuras, que será resumida na seguinte frase: “Lembrar e resistir!”.
Gabriel Victor Costa, Luiz Felipe, Gabriel Cordeiro, Leonardo Castro, Rodrigo Araújo.

Apesar de você
Chico Buarque



Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá


           
Durante a década de 70 o governo Médici havia vetado o Conselho Superior de Censura e o Departamento de Censura (DCDP) agia livremente contra qualquer um que  aparentasse criticar o governo (o AI-5 vigorava contra os direitos humanos), foram os “anos de chumbo” porque agora os artistas podiam ser presos e torturados a qualquer momento, assim muitos preferiram deixar o país, as greves estudantis eram duramente reprimidas. Chico Buarque quis correr o risco, ele e outros artistas passaram a usar metáforas em suas músicas, que escondia seus significados verdadeiros.
            A música passou despercebida pela censura e se tornou sucesso popular, depois de vender 100 mil cópias perceberam o sentido escondido na musica, isso aconteceu porque a música parecia na verdade uma briga entre namorados e o ritmo alegre do samba ajudava a disfarçar o tema.
Foi um período especialmente duro na ditadura militar por causa da repressão e desaparecimentos, mas o governo pretendia fazer o povo pensar que tudo estava bem e que a ditadura era boa para desenvolver o país, o povo era incentivado a ver TV e os hinos ufanistas que descreviam o Brasil como “um país tropical e bonito por natureza”.
O governo era a autoridade máxima não poderia ser contestado, as pessoas andavam preocupadas e com medo do governo (a censura atacava quase indiscriminadamente) e já não podia falar abertamente, as fontes de conhecimento, livros e músicas, eram controladas pelo governo. Também não havia perdão para crimes políticos, a música pergunta como Médici vai se esconder da raiva de toda a população quando uma revolução acontecesse, enfatizando que ele não estaria no poder para sempre enquanto as pessoas eram reprimidas e tentavam manter-se felizes. É clara a menção no fim da música, uma afronta.

Rodrigo Silva, João Victor, Dayane Sinandes.